quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os Maçons "Aceitos"

Debilitando-se depois, no século XVII, com o renascimento clássico e a corrupção da Igreja (que ocasionou a reforma e as novas teorias filosóficas), o fervor religioso dos séculos passados, a arte sagrada teve necessariamente que decair, e com ela as corporações de maçons operativos que desta atividade extraiam sua razão de ser sua subsistência. Mas aqui e ali, e especialmente na Inglaterra, algumas delas subsistiram, se bem que de forma muito reduzida, passando natural e gradualmente da atividade construtiva que ocasionou sua formação, até se ocupar exclusivamente dos assuntos que antes eram para eles de secundária importância, como por exemplo, o estudo e a beneficência. Sem dúvida contribuiu notavelmente para esta nova orientação de atividade das lojas a admissão que foi feita desde então, sempre mais liberal e numerosa (conforme ia decrescendo seu valor como associações profissionais) de maçons aceitos (accepted freemasons), isto é, membros honorários que nunca tinham exercido uma profissão relacionada com a arte de construir.
Os novos associados, muitas vezes homens de estudo e filósofos eminentes, influíram largamente nestes agrupamentos de antigos construtores, os quais chegaram facilmente a dirigir. Foi assim que as lojas maçônicas profissionais transformaram-se naturalmente em lojas de maçonaria especulativa, nascendo dessa maneira a Maçonaria como atualmente conhecemos. E assim também, muitas doutrinas e tradições iniciáticas e místicas, de diferente origem ou descendência, passaram a incorporar-se à nascente, ou melhor, dizendo, renascente instituição. As tradições templárias e rosa-cruzes, em especial, tiveram parte importante nesta transformação. Enquanto as lojas Maçônicas encontravam naquelas doutrinas, a alma que lhes infundia uma vida nova, estas encontraram naquelas o corpo, o veículo ou o meio exterior mais conveniente à sua expressão, o que de outra forma poderia ocorrer de modo estéril e deficiente.
Com o século XVII termina assim o estudo das origens maçônicas; desde o XVIII começa a sua história como instituição moderna preparando-se o futuro.


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Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa

É evidente, pois, que o elemento espiritual (especulativo ou devocional) e o material (operativo ou construtivo) encontram-se intimamente unidos desde o momento em que o primeiro se concebeu e se realizou a idéia de um Templo, como símbolo exterior de um reconhecimento interior, e que a Maçonaria, surgiu espontaneamente desta idéia de levantar ou estabelecer um símbolo à Glória do Princípio ou Realidade interiormente reconhecido, pois se os Maçons no sentido material foram "construtores" em geral, sempre tem sido mais particularmente os que têm elevação Templos para o espírito.
Tendo presentes estas considerações, não há nada de surpreendente na transformação da maçonaria operativa em especulativa, isto é, de como uma Instituição Moral e Filosófica tenha podido desenvolver-se sobre uma arte material, tomando o lugar das corporações medievais e continuando as. Ambos os elementos - operativo e especulativo - estiveram juntos desde o princípio, e isto se evidencia no desenvolvimento cíclico que faz prevalecer, conforme os momentos históricos e as necessidades de uma época, uma ou outra tendência, um ou outro destes dois aspectos da nossa Instituição, tão inseparáveis como as duas colunas que dão acesso a nossos Templos.
Além de que constitui o selo de sua origem, a construção em geral e a de um templo em particular - prestou-se sempre e atualmente ainda se presta admiravelmente como símbolo interpretativo da atividade da Natureza, podendo-se considerar o Universo como uma Grande Obra, como um Templo e ao mesmo tempo uma Oficina de Construção, dirigida, inspirada e atualizada por um Princípio Geométrico, cujas diferentes manifestações são as leis naturais que o governam e as forças que, segundo estas leis, produzem diferentes efeitos visíveis. Esta obra de construção pode o homem observá-la em si mesmo, em seu próprio organismo físico (muitas vezes comparado a um templo), assim como em sua íntima organização espiritual, no mundo interior de suas idéias, pensamentos, emoções e desejos. Todo homem vem a ser assim, um microcosmos ou "pequeno universo" e um Templo (análogo ao Grande Templo do Universo que constitui o Macrocosmos), individualmente erguido "a Glória" do Princípio Divino ou Espiritual que o anima. Com esta Obra Universal que se desenvolve igualmente dentro e fora de nós, na qual todo ser participa geralmente de forma inconsciente com sua própria vida e atividade, o Maçom - ou seja o iniciado nos Mistérios da Construção - tem o privilégio e o dever de cooperar conscientemente, convertendo-se em obreiro inteligente e disciplinado do Grande Plano que constitui a evolução. Assim, pois, a Ars Structoria é, para quem sabe interpretá-la e realizá-la, a verdadeira Ciência e Arte Real da Vida, o Divino privilégio dos iniciados que a praticam especulativa e operativamente; dois aspectos intimamente unidos e inseparáveis, ainda que possam manifestar-se de diferentes formas, conforme a evolução particular do indivíduo. E não há altura ou elevação do pensamento ou do plano da consciência individual que não possa ser interpretado, ou ao qual não possam utilmente aplicar-se as alegorias, os emblemas e os instrumentos simbólicos da Construção.


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Landmarks de Mackey


1-Os processos de reconhecimentos são os mais legítimos e inquestionável de todos os “landmarks".Não admitem mudança de qualquer espécie isto tem sido feito, funestas conseqüências posteriores vieram demonstrar o erro cometido.

2-A divisão da Maçonaria Simbólica em três graus é um Landmark. São eles: Aprendiz, Companheiro e Mestre.

3-A Lenda do 3º Grau é um Landmark importante cuja integridade tem sido respeitada.
Nenhum Rito existe em Maçonaria, em qualquer país, ou de qualquer idioma, em que não sejam expostos os elementos essenciais dessa Lenda. As fórmulas escritas podem variar, e na verdade variam; a lenda, porém do construtor do Templo permanece em essência. Qualquer rito que a excluir ou altere substancialmente, deixará de ser um Rito Maçônico.

4-O Governo da Fraternidade, por um Oficial que a preside, denominado Grão-Mestre é eleito pelo povo maçônico, é o quarto Landmark da Ordem. Muitas pessoas pensam que a eleição do Grão-Mestre se pratica por ser estabelecida em lei ou regulamento, mas nos anais da lnstituição, encontram-se Grão-mestres muito antes de existirem Grandes Lojas e se todos os Regulamentos e Constituições fossem abolidos, sempre seria mister a existência de um Grão-Mestre.

5-A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir todas as reuniões maçônicas feitas onde e quando se fizerem é o 5º Landmark. É em virtude dessa Lei, de antiga usança e tradição, que o Grão-Mestre ocupa o "Trono” quando se acha presente à sessão de qualquer loja.

6-A prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença para conferir graus em tempos anormais é outro importantíssimo Landmark. Os estatutos e Lei maçônica exigem prazos, que devem transcorrer entre a proposta e a recepção do candidato, porém o Grão-Mestre tem o direito de dispensar esta ou qualquer exigência, e permitir a lniciação, a Elevação ou Exaltação imediata.

7-A prerrogativa que tem o Grão-Mestre de dar autorização para fundar e manter lojas é outro importante Landmark. Em virtude dele, pode conceder a um número suficiente de Mestres Maçons o privilégio de se reunir e conferir graus. As Lojas assim constituídas chamam-se "Lojas Licenciadas". Criadas pelo Grão- Mestres existem enquanto ele não resolve o contrário, podendo ser dissolvidas por ato seu. Podem ter um dia de existência, um mês ou seis. Qualquer que seja, porém, o prazo de sua existência, exclusivamente ao Grão-Mestre a deve.

8-A prerrogativa do Grão-Mestre de criar Maçons por sua deliberação é outro Landmark importante.
O Grão-Mestre convoca, pelo menos, outros seis Mestres Maçons, forma uma Loja e sem uma forma prévia confere os graus aos candidatos. Findo isso é dissolve a Loja e despede os irmãos. As Lojas assim formadas chamam-se "Lojas de Emergência".

9-A necessidade de se congregarem os Maçons em Lojas é outro Landmark.

10-O Governo da Fraternidade quando congregada em Loja por um Venerável e dois Vigilantes, é também um Landmark. A presença do Venerável e dois Vigilantes, é tão essencial para a validade e legalidade da organização de uma Loja que, no dia da consagração, são considerados como uma Carta Constitutiva.

11-A necessidade de estar a Loja a coberto quando reunida, é importante Landmark, que tem origem no caráter esotérico da lnstituição.
O cargo de Guarda do Templo, que vela para que o local da reunião seja absolutamente vedado á intromissão de profanos, independe, pois, de qualquer regulamento ou Constituição.

12-O direito representativo de cada lrmão nas reuniões da Fraternidade é outro Landmark.
Nas reuniões gerais, outrora chamadas "Assembléia Geral” todos os lrmãos, mesmo os Aprendizes, tinham o direito de tomar parte. Nas Grandes Lojas, hoje, só tem direito de assistência os Veneráveis e os Vigilantes. No Grande Oriente do Brasil, esta representatividade é do Deputado, na qualidade de representante, de todos os lrmãos da Loja. Antigamente cada lrmão se representava por si mesmo.
Nem por motivo dessa concessão feita em 1717, deixa de existir o direito de representação firmado por este Landmark.

13-O direito de recurso de cada maçom das decisões de sua Loja para a Grande Loja, Grande Oriente ou Assembléia Geral dos lrmãos, é um Landmark essencial para apresentação da justiça e para prevenir a opressão.

14-O direito de visitar e tomar assento em qualquer Loja é um inquestionável Landmark da Ordem.
É o consagrado, “direito de visitação", reconhecido universalmente, ato dos que viajam pelo mundo a fora.

15-Nenhum visitante desconhecido dos lrmãos da Loja pode ser admitido como visitante, sem que primeiro seja examinado, conforme os antigos costumes.

16-Nenhuma Loja pode intrometer-se em assunto que diga respeito à outra, nem conferir graus a lrmãos de outros quadros.
17-Todo maçom está sujeito ás leis e regulamentos da jurisdição maçônica em que residir, mesmo não sendo membro de qualquer Loja.
A inafiliação é por si uma falta maçônica.

18-Por este Landmark, os candidatos á iniciação, devem ser isentos de defeitos físicos, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade.

19-A crença no G.A.D.U. é um dos mais importantes Landmarks da Ordem.
A negação dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para a iniciação.

20-Subsidiariamente a esta crença, é exigida a crença numa vida futura.

21-É indispensável a presença no Altar, de um "Livro da Lei". Este livro supõe-se, conforme a crença, conter a verdade, revelada pelo Grande Arquiteto do Universo.

22-Todos os Maçons, são absolutamente iguais dentro da Loja, sem distinção de prerrogativas profanas, de privilégios que a sociedade confere.
A maçonaria a todos nivela nas reuniões maçônicas.

23-Este Landmark prescreve a conservação secreta dos conhecimentos havidos pela iniciação, tanto os métodos de trabalho como suas lendas e tradição, quê só podem ser comunicados a outros lrmãos.

24-A fundação de uma sociedade especulativa, segundo métodos operativos e o uso do simbolismo, a explicação dos ditos métodos e dos termos neles empregados como propósito de ensinamento moral, constitui outro Landmark. A preservação da Lenda do Templo de Salomão é outro fundamento desses Landmark.

25-O Último Landmark, que afirma a inalterabilidade dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou retirado, nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzida.
"Assim como de nossos antecessores os recebemos assim os devemos transmitir aos nossos sucessores- Nolumus est leges mutari".


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A "Ars Structoria"

Entre todas as artes, a Arquitetura tem sido venerada e praticada em todos os tempos como uma arte especialmente Divina. Não devemos maravilhar-nos da especial consideração em que sempre foi tida, por estar a construção material intimamente relacionada com a forma exterior de toda civilização, da qual pode-se considerar ao mesmo tempo como causa, meio, condição necessária e expressão natural.
A casa representa o princípio da vida civil e não carece de razão sem dúvida, que a segunda letra do alfabeto hebraico (que constitui a inicial da palavra sagrada do Aprendiz) signifique exatamente "casa", derivando sua forma do hieróglifo simbólico da mesma. A Casa representa assim à primeira letra ou o princípio da civilização, enquanto sua interpretação esotérica em relação às demais letras da Palavra dá outro significado mais próprio para o Aprendiz, que estudaremos mais adiante.
Quando os homens tiveram casas ou abrigos protetores, e quando os muros das cidades constituíram para estas a base de sua segurança, foi quando puderam desenvolver as artes, as ciências e as instituições sociais. Então, elevando-se a atenção e as aspirações dos homens, do reino dos efeitos para o das causas, ou da aparência exterior à realidade interior que nela se esconde e a anima, foi quando nasceu a idéia e sentiu-se a necessidade de construir um Templo, de levantar um edifício ou símbolo exterior do reconhecimento interior da Causa Transcendente, dos efeitos visíveis.
Esta aspiração interior constitui o princípio de toda iniciação, ou ingresso, numa forma superior de pensar, de ver e de considerar as coisas. Portanto, podemos dizer que a Maçonaria teve tanto moral como materialmente origem no primeiro Templo que se levantou em reconhecimento à Divindade, e que o primeiro maçom foi quem o levantou, apesar do rude e elementar que foi esse Templo primitivo, que bem pode ter consistido de uma única coluna, ou tronco de pedra ou de madeira, cuja tradição foi perdida em seguida nos obeliscos.


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Espírito, Alma e Corpo

Podemos considerar estas fraternidades e movimentos, como a alma multiforme do Espírito Uno da Tradição Universal, que veio diretamente e sem interrupção até nós provindo dos antigos Mistérios. Assim, no que diz respeito a seu espírito iniciático como à tradição que a anima (e da qual é herdeira e continuadora), as origens de nossa Instituição não podem ser mais gloriosas, sendo nós, como Maçons, os herdeiros dos antigos Reis- Sacerdotes (simbolizados por Melchisedeck e Salomão) e dos Grandes Iniciados de todos os Tempos. E no que se refere ao corpo no qual esta Alma tradicional encarnou – isto é, a forma que domina exteriormente nossa Instituição, que foi tomada particularmente da Arte de Construir -, nossas origens não são menos gloriosas, já que se relacionam diretamente com a fonte de toda civilização, como a causa se relaciona com o seu efeito natural.
Conhecemos, pelo estudo que temos feito nas páginas precedentes, algo de sua alma, que é tradição e Finalidade, comuns às diferentes ordens, escolas, movimentos, sociedades e comunidades que acabamos de examinar - uma Alma formada pelas mais elevadas aspirações humanas e expressada constantemente em termos de compreensão, tolerância e amor fraternal. Vejamos agora como também o corpo exterior da Instituição tem suas origens nos tempos da mais remota História e da pré-história humana, tendo deixado seus vestígios em todas as grandes obras e monumentos que até nós chegaram das épocas passadas.


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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Templários e Rosa-Cruzes

As tradições herméticas orientais encontram no Ocidente, durante a Idade Média e o princípio da Idade Moderna, outros tantos canais para sua expressão nas muitas sociedades e ordens místicas e secretas, que se manifestaram aqui e acolá, ainda que aparentemente com diversa finalidade exterior, mas todas intimamente relacionadas com a Tradição Iniciática e ligadas interiormente pela afinidade de seus meios de manifestação e de uma identidade fundamental de orientação...
Entre estes movimentos, os dois mais conhecidos e que mais influenciaram a Maçonaria, são a Ordem do Templo, que teve seu apogeu e seu período de esplendor no século XIII, e a Fraternidade Rosa-Cruz que a influenciou especialmente no século XVII.
A Ordem dos Cavaleiros do Templo nasceu das Cruzadas e do contato estabelecido por ocasião destas, entre os cavaleiros vindos do Ocidente e as místicas comunidades orientais depositárias de tradições esotéricas.
Como Ordem, foi fundada em 1118 por dois cavaleiros franceses, Hugues de Payens e Godefroid de St. Omer, com o fim de proteger os peregrinos que iam a Jerusalém depois da Primeira Cruzada.
Os cavaleiros faziam os três votos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, como as demais ordens religiosas, e a Ordem compreendia em si um corpo eclesiástico próprio, dependente direta e unicamente do Grão Mestre da Ordem e do Papa. Assim, os místicos segredos dos quais a Ordem se fez depositária, podiam ser guardados com toda a segurança. O segredo dentro do qual eram desenvolvidas as cerimônias de recepção e se comunicavam os mistérios aos que se reputavam dignos e maduros para possuí-los, foi o pretexto das acusações de imoralidade e heresia que se fizeram à Ordem, sendo em realidade motivadas pela ignorância, o ciúme e a cobiça de sua imensa riqueza. Esta última foi principalmente a razão que levou a Felipe o Belo, rei da França no ano de 1307, a prender sem prévio aviso a todos os Templários, que foram torturados e julgados sumariamente pelo Tribunal da Inquisição, como preciso objetivo de acabar com a Ordem, cujo fim foi tragicamente selada em 1314 com a bárbara morte infligida a seu Grão Mestre Jacques de Molay, que foi queimado vivo diante da catedral de Notre Dame de Paris (quatro meses depois da abolição da Ordem ter sido decretada por obra do pontífice. Também o movimento filosófico conhecido com o nome de Fraternitas Rosae-Crucis teve sua origem no contato do Ocidente com o Oriente, e com as secretas tradições que aqui puderam conservar-se mais livre e fielmente. Cristhian RosenKreutz, seu místico fundador, nasceu segundo a tradição da qual se fala na Fama Fraternitatis, em 1378, e ainda muito jovem viajou para Chipre, Arábia e Egito, aonde lhe foram revelados muitos importantes segredos que levou consigo para a Alemanha, aonde fundou a Fraternidade, destinada a reformar a Europa. Depois de sua morte foi sepultado secretamente numa tumba preparada expressamente para ele, que devia permanecer desconhecida para os membros da mesma Fraternidade, até que foi casualmente descoberta, lendo-se mesma a inscrição: Post CXX anos patebo. Esta estória, assim como os segredos e maravilhas que se encontram na tumba, é evidentemente um simbolismo da Tradição Iniciática da Sabedoria, personificada pelo mesmo Cristian Rosenkreutz, que vem do Oriente para o Ocidente, e é conservada zelosamente em sua tumba hermética, onde a buscam e encontram seus adeptos, os fiéis buscadores da Verdade.
Quanto à influência destes dois movimentos sobre a Maçonaria, que é a que neste momento mais nos interessa, é certo que não somente muitas tradições templárias e rosa-cruzes encontram seu caminho em nossa Ordem, senão que também esta se fez a intérprete e natural herdeira de seus objetivos ideais e da Grande Obra que constitui o objeto de todas as diferentes tendências. Hermetistas, templários, rosa-cruzes e filósofos, sempre se confraternizaram com os maçons, e desta comunhão espiritual nasceu a Maçonaria conforme hoje a conhecemos.


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Alquimia e Hermetismo

Como do Oriente asiático tem chegado as doutrinas cabalísticas, do Egito e da tradição hermética (de Hermes Trismegisto ou Thoth, o fundador, tradicional dos mistérios egípcios) faz-se originar a Alquimia (palavra árabe que parece significar "a Substância"), daqueles que se autodenominavam verdadeiros filósofos.
O significado comum e familiar do adjetivo hermético pode nos dar uma idéia do sigilo por meio do qual os alquimistas costumavam ocultar a verdadeira natureza de suas misteriosas pesquisas. Não devemos, portanto estranhar se a maioria das pessoas segue acreditando, ainda hoje, que os principais objetivos dos alquimistas foram os de enriquecer-se por meio da pedra filosofal, que deveria converter o chumbo em ouro puro, e alongar notavelmente a duração de sua existência, livrando-se, ao mesmo tempo, das enfermidades por intermédio de um elixir e de uma milagrosa panacéia.
Nessa mística lápis philosophorum, entretanto, nós os maçons não podemos deixar de reconhecer uma particular encarnação, um estado de pureza, refinamento e perfeição da mesma pedra em cujo trabalho principalmente consiste nosso labor. Quando refletimos sobre o segredo simbólico, no qual, à nossa semelhança, envolviam seus trabalhos para ocultá-los aos profanos da Arte, não podemos ter a menor dúvida de que, além dessas finalidades materiais, que justificavam para os curiosos suas ocupações, os reais esforços de todos os verdadeiros alquimistas foram dirigidos para objetivos essencialmente espirituais.
A pedra filosofal não pode ser, pois, nada senão o conhecimento da Verdade, que sempre exerce uma influência transmutadora e enobrecedora sobre a mente que a contempla e se reforma à sua imagem e semelhança. Unicamente por meio desse conhecimento, que é realização espiritual, podem converter-se as imperfeições, as paixões e as qualidades mais baixas e vis dos homens naquela perfeição ideal da qual o ouro é símbolo mais adequado.
Com esta chave é relativamente fácil para nós entendermos a misteriosa linguagem que os alquimistas utilizam em suas obras, e como a própria personalidade do homem é o athanor, mantido ao calor constante de um ardor duradouro, onde devem desenvolver-se todas as operações. O parentesco entre o simbolismo alquímico e o maçônico aparece com bastante clareza no desenho que reproduzimos na página 23, extraído de uma ilustração da obra de Basílio Valentin sobre o modo de fazer o ouro oculto dos filósofos, igualmente adotado por outros autores.
A Grande Obra dos alquimistas, e aquela que procuramos em nossos simbólicos trabalhos, apresentam, efetivamente, uma idêntica finalidade comum a todas as escolas iniciáticas, seja no significado místico da realização individual, como numa iluminada e bem dirigida ação social, que tem por objetivo o aprimoramento do meio e a elevação, o bem e o progresso efetivo da humanidade.



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A Cabala Hebraica

As antigas tradições orientais e herméticas encontram na Cabala e na Alquimia duas novas encarnações ocidentais que não foram estranhas às origens da moderna Maçonaria.
A Cabala (do Hebraico kabbalah, "tradição") representa a Tradição Sagrada conhecida pelos Hebreus, e por sua vez deriva de antigas tradições caldéias, egípcias e orientais em geral. Trata especialmente do valor místico e mágico dos números e das letras do alfabeto relacionadas com princípios numéricos e geométricos, que encerram em si outros tantos significados metafísicos ou espirituais, dos quais aparece a íntima concordância e a unidade fundamental das religiões. A antigüidade do movimento cabalista e sua proximidade aos hebreus têm sido negadas por alguns críticos modernos, mas, geralmente, admite-se sua existência após o cativeiro da Babilônia, tornando-se assim manifesta sua afirmação doutrinária dos magos caldeus. Especiais importâncias possuem na cabala as palavras sagradas e os Nomes Divinos, atribuindo-se aos mesmos um poder que se faz operativo por meio de sua correta pronúncia - doutrina comum a todas as antigas tradições, que também tem sido desenvolvida de forma racional na Filosofia da Índia, onde o som ou o Verbo é considerado como um espírito da Divindade (Shabdabralman).



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A Escola Gnóstica

Diretamente relacionada com a escola eclética alexandrina, a tradição ou escola gnóstica do Cristianismo, tem sido considerada e foi posteriormente perseguida como heresia pela Igreja de Roma.
O gnosticismo tentou conciliar e fundir até o limite possível, o cristianismo então nascente, com as religiões e tradições iniciáticas mais antigas, substituindo o dogma (doutrina ortodoxa, da qual se pede uma aceitação incondicional como "ato de fé") pela gnoses (conhecimento ou compreensão por meio da qual alcança-se a Doutrina Interior). De acordo com esta escola, o Evangelho, à semelhança de todas as escrituras e ensinos religiosos, deve ser interpretado em seu sentido esotérico, isto é, como expressão simbólica e apresentação dramática de Verdades espirituais.
O Cristo, mais que uma atribuição pessoal de Jesus, seria o conhecimento ou percepção espiritual da Verdade que deve nascer e realmente nasce em todo iniciado, que assim, torna-se seu verdadeiro cristoforo ou cristão. O próprio Jesus seria também o nome simbólico deste princípio salvador do homem, que o conduz "do erro à Verdade e da Morte à Ressurreição".
A própria Fé (pistis), considera-se como meio para chegar à Gnosis, preferivelmente à aceitação passiva e incondicional de qualquer afirmação dogmática, apresentada como uma Verdade revelada. Apesar das posteridades interpolações, é certo que o Evangelho, as Epístolas e o Apocalipse de São João, revelam claramente um fundamento gnóstico (a mesma doutrina ou tradição gnóstica dizia-se instituída pelos discípulos ou seguidores de São João), e esta tradição gnóstica ou joanita representa no Cristianismo o ponto de contato mais direto com a Maçonaria.



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As Escolas Filosóficas


Não podemos esquecer igualmente, nesta sintética enumeração das origens da Maçonaria, as grandes escolas filosóficas da antigüidade: a vedantina,na Índia, a pitagórica, a platônica e a eclética ou alexandrina no Ocidente, as quais, indistintamente, tiveram sua origem e inspiração nos Mistérios.
Da primeira, diremos simplesmente que seu propósito foi a interpretação dos livros sagrados dos Vedas (Vedanta significa etimologicamente fim dos Vedas), antigas escrituras brahmânicas inspiradas, obras dos Rishis, "videntes" ou "profetas" com propósito claramente esotérico, como é demonstrado por sua característica primitivamente adavaita ("antidualista" ou unitária), com o reconhecimento de um único Princípio ou Realidade, operante nas infinitas manifestações da Divindade, consideradas estas como diferentes aspectos desta Realidade Única.
A escola estabelecida por Pitágoras, como comunidade filosófico educativa, em Crotona, na Itália meridional (chamada então Magna Grécia), tem uma íntima relação com nossa instituição. Os discípulos eram inicialmente submetidas a um longo período de noviciado que pode comparar-se ao nosso grau de Aprendiz, onde eram admitidos como ouvintes, observando um silêncio absoluto, e outras práticas de purificação que os preparavam para o estado sucessivo de iluminação, no qual permitia-se que falassem, tendo uma evidente analogia como grau de Companheiro, enquanto o estado de perfeição relaciona-se evidentemente como nosso grau de Mestre.
A escola de Pitágoras teve uma decidida influência, também nos séculos posteriores, e muitos movimentos e instituições sociais foram inspirados pelos ensinamentos do Mestre, que não nos deixou nada como obra direta sua, já que considerava seus ensinamentos como vida e preferia, como ele mesmo o dizia gravá-las (outro termo caracteristicamente maçônico) na mente e na vida de seus discípulos, do que confiá-las como letra morta ao papel.
Em relação a Pitágoras cabe recordar aqui um curioso e antigo documento maçônico, no qual se atribui ao Filósofo por excelência (foi quem primitivamente usou este termo, distinguindo-se como amigo da sabedoria dos sufis ou sufistas, que ostentavam, com orgulho inversamente proporcional ao mérito real, o título de sábios) o mérito de ter transportado as tradições maçônicas orientais ao mundo ocidental greco-romano.
Desta escola platônica e de sua conexão com os ensinamentos maçônicos, é suficiente que recordemos a inscrição que existia no átrio da Academia (palavra que significa etimologicamente "oriente"), onde eram celebradas as reuniões: "Ninguém deve aqui entrar se não conhecer a Geometria"; alusão evidente à natureza matemática dos Primeiros Princípios, assim como ao simbolismo geométrico ou construtor que nos revela a íntima natureza do Universo e do homem, bem como, de sua evolução.
A filiação destas escolas aos Mistérios é evidente pelo fato de que Platão, como Pitágoras e todos os grandes filósofos daqueles tempos, foram iniciados nos Mistérios do Egito e da Grécia (ou em ambos), e todos deles nos falam com grande respeito, ainda que sempre superficialmente, por ser então toda violação do segredo castigada pelas leis civis até com a própria morte.
Da escola eclética ou neoplatônica de Alexandria, no Egito, podemos estabelecer a dupla característica de sua origem e de sua finalidade, uma vez que nasceu da convergência de diferentes escolas e tradições filosóficas, iniciáticas e religiosas, como síntese e conciliação destas, do ponto de vista interior no qual se revela e torna patente sua fundamental unidade.
Esta tentativa de unificação de escolas e tradições diferentes, por meio da compreensão da Unidade da Doutrina que nelas se encerra, foi renovada uns séculos depois por Ammonio Saccas, constituindo ainda um privilégio constante e universal característico dos verdadeiros iniciados em todos os tempos.



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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

As Comunidades Místicas


Ao lado das mais antigas instituições oficiais dos Mistérios – protegidas por reis e governos com leis e privilégios especiais, por sua influência reconhecidamente benéfica, moralizadora e instintivamente venerada pelos novos - existiram em todo o Oriente, e especialmente na Índia, Pérsia, Grécia e Egito, muitas comunidades místicas que, se por um lado podem ser comparadas aos atuais conventos e ordens monásticas, por outro, algumas de suas características as relacionam intimamente com a moderna Maçonaria.
Estas comunidades - algumas das quais tiveram, embora outro não, caráter decididamente religioso - nasceu, evidentemente, da necessidade espiritual de agrupar-se para levar, ao abrigo das condições contrárias do mundo exterior, uma vida comum mais de acordo com os ideais e íntimas aspirações de seus componentes.
As características destas comunidades, que constituem um laço de união com nossa Ordem, referem-se igualmente à sua dupla finalidade operativa e especulativa - enquanto se dedicavam igualmente a trabalhos e atividades materiais, assim como aos estudos filosóficos e contemplação - à iniciação como condição necessária para nelas serem admitidos, e aos meios de reconhecimento (sinais, palavras e toques que usavam entre si e por intermédio dos quais abriam suas portas ao viajante iniciado que se fazia reconhecer como um deles, tratando-o como irmão, qualquer que fosse sua procedência.
Destas místicas comunidades muito nos fala Filostrato em sua Vida de Apolônio de Tiana, baseando-se nos apontamentos de Damis, discípulo do grande filósofo reformador do primeiro século de nossa Era (ou melhor dizendo, companheiro de viagem, pois por não ser um iniciado, quase sempre Damis era obrigado a ficar na porta dos Templos e Santuários que não possuíam segredos para seu Mestre), Mestre que viajou constantemente de uma a outra comunidade, assim como de Templo em Templo nas mais diversas religiões, e onde sempre encontrou hospitalidade e acolhida fraternal, neles compartilhando o Pão da Sabedoria.
As mais conhecidas foram as comunidades dos Essênios entre os hebreus, dos Terapeutas do Alto Egito e dos Ginosofistas na Índia. Este último termo - que literalmente significa sábios despidos - parece muito bem aplicar-se aos iogues, em seu tríplice sentido moral, material e espiritual, quando se despojavam de toda sua riqueza ou posse material e reduziam seu traje ao que de mais simples havia, despindo-se espiritualmente com a prática da meditação que em seus aspectos mais profundos é um despojo completo da mente (a "Criadora da Ilusão") e das faculdades intelectuais, das quais está revestido nosso Ego ou Alma para sua atuação como "ser mental".




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Os Mistérios

Em todos os povos conhecidos da história, na era pré-cristã, houve instituição de mistérios: no Egito como na Índia, na Pérsia, Caldeia, Síria, Grécia e em todas as nações mediterrâneas, entre os druidas, os godos, os escribas e os povos escandinavos na China e entre os povos indígenas da
América. Traços deles podem ser observados nas curiosas cerimônias e costumes das tribos da África e Austrália, e em todos os chamados povos primitivos, aos quais possivelmente, de forma mais justa, deveríamos considerar como originários da degeneração de raças e civilizações mais antigas.
Tiveram fama especialmente os Mistérios de Isis e de Osíris no Egito; os
de Orfeu e Dionísio e os Eleusinos na Grécia; os de Mitra, que da Pérsia
se estenderam com as legiões romanas, por todos os países do império. Menos conhecidos e menos brilhantes, especialmente em seu período de decadência e degeneração, foram os de Greta e os da Samotrácia; os de
Vênus em Chipre; os de Tammuz na Síria, e muitos outros. Também a religião cristã teve no princípio seus Mistérios, como deixam transparecer os indícios de natureza inequívoca que encontramos nos escritos dos primitivos Pais da Igreja, ensinando aos mais adiantados um aspecto mais profundo e interno da religião, à semelhança do que fazia Jesus, que instruía o povo por meio de parábolas, alegorias e preceitos morais, reservando ao pequeno círculo eleito dos discípulos - os que escutavam e punham em prática a Palavra seus ensinamentos esotéricos. A essência dos Mistérios Cristãos tem-se conservado nas cerimônias que constituem atualmente os Sacramentos. Igualmente a religião muçulmana, assim como o Budismo e a antiga religião brahmânica, tiveram e têm seus Mistérios, que conservaram e em alguns casos conservam até hoje muitas práticas sem dúvida anteriores ao estabelecimento de ditas religiões, reminiscência daqueles que eram celebrados entre os antigos árabes, caldeus, aramaicos e fenícios, pelo que se refere à primeira, e entre os povos da Ásia Central e Meridional, pelos segundos.
Ainda que os nomes difiram e sejam parcialmente discordantes, a forma simbólica e as particularidades dos ensinamentos e suas aplicações tem sido característica fundamental e originária de toda a transmissão de uma mesma Doutrina Esotérica, em graus diversos e sucessivos, conforme a maturidade moral e espiritual dos candidatos, os quais eram submetidos a provas (muitas vezes difíceis e espantosas) para reconhecê-la, subordinando-se a comunicação do ensino simbólico, e os instrumentos ou chaves para interpretá-la, à firmeza e fortaleza de ânimo demonstrado na superação destas provas.
A própria Doutrina nunca variou em si mesma, ainda que se tenha revestido de formas diferentes (mas quase sempre análogas ou muito semelhantes) e interpretada mais ou menos perfeita ou imperfeitamente e de uma maneira relativamente profunda ou superficial, por efeito da degeneração, à qual com o tempo sucumbiram os instrumentos ou meios humanos aos quais aquela havia sido confiada. Esta unidade fundamental, assim como a analogia entre os meios, pode considerar-se como prova suficiente da unidade de origem de todos os Mistérios de um mesmo e único Manancial, do qual tem emanado, ou pelo qual foram inspiradas, as diferentes instruções e tradições religiosas, e a própria Maçonaria em suas formas primitivas e recentes.



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