sexta-feira, 1 de julho de 2011

Considerações Sobre as Constituições Maçônicas

Constituição Francesa, de 1523;
A Constituição Inglesa, de Anderson, de 1723 e
A Constituição Prussiana, de Frederico II, de 1786.
É muito interessante o confronto entre as duas constituições Maçônicas, a Francesa de 1523 e a Inglesa, de Anderson, de dois séculos mais tarde.
Na primeira, é o espírito latino, menos místico e mais rebelde, a mostrar-se inquieto pelos destinos da pessoa humana, lutando pela liberdade do pensamento e rebelando-se contra os privilégios das castas religiosas e da nobreza.
Na Segunda, é o misticismo religioso, o “mosaismo” na sua mais alta expressão, a obediência cega aos reis, a confusão, enfim, entre a teologia e as coisas temporais.
Na Francesa, a Maçonaria é um movimento filosófico ativo, universalista e humanitário, no qual cabem todas as orientações e critérios que tenham por objetivo o aperfeiçoamento moral e intelectual da humanidade, sobre a base do respeito à personalidade humana.
Na Inglesa, a instituição é apenas um sistema de ordem moral, um culto para conservar e difundir a crença na existência de Deus; e é dentro desse princípio que se deve compreender a ajuda aos seus membros para regularem suas vidas e condutas, de acordo com os princípios da sua própria religião, seja ela qual for desde que seja monoteísta.
A primeira, tornando livre a investigação da verdade, defende, pois o fato a liberdade do pensamento e opta pela aplicação do método cientifico experimental na filosofia. A segunda, afirma que a Maçonaria é um culto fundado sobre bases religiosas, não admitindo livres pensadores nem ateus, por melhores que sejam as suas virtudes morais.
A Constituição Francesa é pela proibição absoluta dos clérigos das várias religiões se imiscuírem em assuntos políticos dos povos. Advoga a abolição das castas e dos privilégios da nobreza e do clero, e reconhece a livre determinação dos povos com o direito de se governarem livremente segundo suas leis e costumes. Propõe a supressão dos tribunais especiais da justiça e do Santo Ofício, os quais devem ser substituídos pelos tribunais comuns, de acordo com as leis e costumes.
A Inglesa é omissa nesses pontos. A Francesa não proíbe que os seus membros adorem os deuses sem combate as religiões. Omite-as, deixando as concepções metafísicas ao domínio individual dos seus membros. A Inglesa toma obrigatória a crença em Deus, e obriga ao juramento sobre a Bíblia.
“É costume antigo - diz a Constituição Francesa -não admitir como Francos-maçons os inimigos naturais da instituição, como sejam os clérigos das várias religiões, os portadores de títulos e privilégios da nobreza e do clero, e os que possuem convicções contrárias aos princípios básicos da Franco-Maçonaria, salvo quando se rebelarem clara e francamente contra essas ideologias antagônicas dos princípios da igualdade humana”.
A Inglesa, pelo contrário, conferem a nobreza os títulos mais altos da hierarquia Maçônica. Aplacadas as lutas religiosas na França e ressuscitando o movimento filosófico interrompido pelos desatinos da contra reforma, a Maçonaria retorna ao continente e retoma a sua antiga forma expressa na Constituição de 1523.
Era a época da Enciclopédia e da propaganda do que devia ser mais tarde a grande Revolução Francesa. Os emblemas da realeza são banidos dos rituais, e as formas religiosas introduzidas pelos Ingleses cedem lugar a concepções racionalistas onde o caráter cívico da instituição se manifesta em toda a sua pujança e magnitude.
Não há dúvida, a Maçonaria Francesa assume o seu lugar na vanguarda, penetrando profundamente na burguesia, sem descurar, contudo o proselitismo entre a própria nobreza que sentia desabar o seu mundo de ilusões.
A reforma ritualística não agradou aos ingleses. Não agradou também, aos alemães a quem não convinha uma França subversiva pelo receio do contágio de idéias tão perigosas.
A instituição, porém, progride e ultrapassa as fronteiras nacionais. Ao grito da França responde o eco em outros latinos.
Na Rússia, a grande Catarina constitui-se em animadora do movimento filosófico e com o auxílio da princesa Dachkov funda uma academia de literatura Russa, convidando para inaugurá-la Grimm, Voltaire e Diderot.
O espectro da República torna-se então o pesadelo de Frederico da Prússia. Não seria de boa tática combater idéias novas com princípios rançosos... Catarina era perigosa e o brio dos Franceses indomável. E Frederico pensou: “se os ingleses mantiveram a casca e apenas fizeram restrições à polpa, por que não hei de eu aproveitar o arcabouço e torná-lo elegante aos olhos da própria França?”.
E foi assim que a 1° de Maio de 1786 o Grande Frederico operava a sua reforma escocista: “Nós Frederico por graça de Deus, Rei da Prússia, Margrave de Brandeboure, etc. Soberano Grande Protetor, Grande Comendador, Grão Mestre Universal, e Conservador da muito antiga e Venerável Sociedade dos Antigos Maçons Livres e Associados, ou Ordem Real e Militar da Franco-Maçonaria, etc. etc. a todos os nossos ilustres e muito amados Irmãos espalhados pelo mundo: Tolerância, União e Prosperidade”.
Foi essa a primeira vez que alguém chamou de “ordem militar” a uma instituição que no pórtico das suas Constituições inscrevia a Paz como princípio da fraternidade entre todos os povos da terra! Em todo o caso, Frederico mostrava-se muito mais hábil que os ditadores do século XX. Não destruía a Maçonaria: mobilizava-a, amenizando a sua intervenção com uma linguagem doce, e até certo ponto compreensiva. “A nossa intenção tutelar era mediar os meios e combinar com os Irmãos mais influentes e chefes da Fraternidade em todos os países, aquelas medidas que fossem mais próprias das verdadeiras liberdades Maçônicas, e particularmente a de opinião, que é a primeira, a mais suscetível, e de todas a mais sagrada”.
Essa reforma não encontrou eco entre os Maçons Ingleses. Eles tinham a sua; era tão boa ou tão má, que ainda hoje perdura.


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